O Último Adeus ao Senhor Wilton Vieira

21/06/2024
Memórias Pastorais 
O Último Adeus ao Senhor Wilton Vieira

Por: Reginaldo Cresencio
18.06.2024

No dia seis de junho de 2024, tive a honra e o privilégio de conduzir o culto fúnebre do Senhor Wilton Vieira, pai do nosso querido irmão Albert, membro da nossa igreja Batista Raízes. 

A cerimônia ocorreu às 14:30 horas no cemitério São Pedro, localizado na Vila Alpina, em São Paulo. 

O Senhor Wilton faleceu prestes a completar 90 anos, após uma longa batalha contra o Alzheimer e algumas complicações de saúde, que o havia confinado ao leito hospitalar nas semanas finais de sua vida. Contudo, Deus nos reserva momentos de graça, e sua família, residente em São Carlos, pôde visitá-lo uma semana antes de seu falecimento, aproveitando um feriado prolongado. Era como se ele estivesse esperando por esse derradeiro encontro para, enfim, se despedir deste mundo de dores.

Quando soube do falecimento, prontifiquei-me imediatamente a realizar o culto fúnebre, se assim fosse do desejo da família. E assim foi. Na noite do dia cinco, recebemos a confirmação de que seria minha responsabilidade guiar as orações e lembranças no último adeus ao Senhor Wilton.


Minha jornada começou cedo, às 5:30 da manhã, na rodoviária. Sem carro no momento, dependi do ônibus para chegar a São Paulo, onde desembarquei às 11 horas. Ao chegar ao velório, notei algo inusitado. Ao contrário da habitual mistura de curiosos, desinteressados e até inconvenientes, encontrei um ambiente de genuína comoção e respeito. As pessoas estavam verdadeiramente interessadas em prestar as últimas homenagens ao Senhor Wilton e em confortar sua viúva e familiares.

Durante o velório, entre relatos emocionados e memórias compartilhadas, ouvi histórias que desenharam um retrato vivo e afetuoso daquele homem. Os netos lembraram com carinho das balinhas de iogurte que ele sempre comprava para distribuir entre a criançada. Um dos filhos contou sobre o dia em que, com o carro quebrado em um bairro distante, ligou para o pai. O Senhor Wilton, sem hesitar, deixou sua casa e cuidou do conserto do carro, dizendo ao filho que fosse tranquilo para o trabalho. Outro filho lembrou da frustração do pai, que teve uma música de sua autoria supostamente roubada por um artista famoso nos anos 70; mas a mais compartilhada era sua frase: “o melhor da festa é esperar por ela”. Histórias como essas, e tantas outras, ilustraram a tranquilidade e a generosidade de um verdadeiro mineiro, indícios fortes de sua longevidade.

No caixão, repousava uma camiseta do Palmeiras, um dos grandes amores do Senhor Wilton, ao lado de sua esposa, que cuidou dele com devoção nos últimos anos de enfermidade. Seu casamento de 58 anos é um testemunho impressionante de amor e compromisso.

Essas memórias foram incorporadas ao sermão fúnebre, e, ocasionalmente, uma risada saudosa ecoava pela sala, refletindo os bons momentos vividos juntos. No entanto, a informação mais relevante foi a de que, alguns anos atrás, o Senhor Wilton buscou ajuda espiritual e confessou Jesus como Senhor e Salvador. Este foi, sem dúvida, o maior consolo para todos os presentes.

O sepultamento foi simples, sem muitas coroas de flores, mas marcado pela leveza e pelo sentimento de que ali se despedia um homem que viveu bem e permitiu que os outros vivessem bem ao seu lado. Ele deixou dois filhos, duas filhas, sete netos e sete bisnetos, todos profundamente emocionados com sua partida. Muitos deixam riquezas como herança; o Senhor Wilton deixou um legado de amor e bondade, mais valioso do que prata e ouro.

Retornei no ônibus das 19 horas e cheguei em casa às 23 horas. Estava cansado, mas, surpreendentemente, não me sentia triste. Em meu coração, repousava a certeza de que o Senhor Wilton estava agora em paz, e com essa paz, também encontrei serenidade.

Que os mortos descansem em paz e que os vivos sejam sábios nos dias que lhes restam.

Esse versículo oferece consolo e uma visão de esperança para aqueles que permanecem, Apocalipse 21:4:

"Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou."